Lei-tu-ra-bi-li-da-de
Clarice Lispector, Nietzsche e este que vos fala: quem escreve de maneira mais clara? Apesar de óbvia a resposta, resolvi testar como se sairiam alguns autores reconhecidos na ferramenta disponibilizada pela
, no Ladies That UX BR.Confesso que torci o nariz quando ouvi falar de uma “calculadora de leiturabilidade” pela primeira vez. Quem me introduziu o conceito foi a sempre antenada-informada-e-didática
, do .Como boa parte do mundo digital, viemos de um universo impresso — leiturabilidade e legibilidade são conceitos dos tempos de Gutenberg, assim como a CAIXA ALTA e a caixa baixa; tudo deriva dos tipos móveis, que abriram a caixa de Pandora das opiniões. Desde lá, todos escrevemos sem parar.
A leiturabilidade em tipografia é entendida como a qualidade que possibilita o reconhecimento do conteúdo da informação e depende mais de questões como o espacejamento entre caracteres e grupos de caracteres, da combinação em frases ou sob outras formas e do entrelinhamento do texto. Um tipo pode ser legível, mas não ter uma boa leiturabilidade. (definição tomada de Fernanda Moraes em Arranjos da tipografia na contemporaneidade: das inter-relações entre forma tipográfica e conteúdo textual). Para mais definições, leiam o artigo da Nataly Lima. Nada como ir à fonte!
Começo por Clarice Lispector, a pobre vítima de frases aleatórias do Facebook. Escolhi crônicas ou textos mais próximos disso, em virtude da leveza que costumam ter.
Segundo a CalcLect® (vou patentear esse nome),Clarice mandou bem e passou no desafio: seu texto foi considerado muito fácil, sendo capaz de ser lido e compreendido por crianças no primeiro ciclo escolar.
Se Clarice passou no teste, pensei: agora mostro que essa calculadora está enganada. Nietzsche, o filósofo alemão mais 𝖑𝖎𝖓𝖉𝖔 lido por adolescentes problemáticos (eu), deve ser impossível de se ler — ou não?
Assim Falou Zaratustra, em tradução de Paulo César de Souza para a Cia das Letras, mostrou que Nietzsche é fácil, sim, senhor. Quem diria, não? Eu apostava um “difícil”. Parabéns, Nietzsche, você fez por merecer.
Já que o tema é “grandes autores da literatura universal minha nossa senhora”, pensei: por que não eu? Modéstia é uma virtude sagrada para mim, mas não resisti a submeter meu texto ao teste.
Usando o texto deste post como exemplo, descobri que meu texto é difícil e adequado ao Ensino Médio (não à toa, sou professor de literatura em cursinho pré-vestibular).
Moral da história: preciso comer muito feijão ainda, como diria minha vó, antes de me meter nessas brincadeiras.